DIEGO BARAVELLI
Documentação dos povos Originários
PUBLICADO
09 de Setembro, 2024
TEXTO
Renato Moraes
A mais de 15 anos documentando os povos indígenas, o fotógrafo Diego Baravelli diz que ainda não tem material suficiente para contar a história de uma população que se reconstrói diariamente.
No Brasil de 2024 a Amazônia arde em chamas, os protetores das florestas são assassinados e os povos do Xingu reduzem drásticamente.
Iniciado como uma pauta para um jornal, o tema dos povos originários cresceu em grandes proporções na vida de Diego, que hoje divide sua vida entre seu apartamento em São Paulo e suas viagens de documentação histórica. Sua identificação com causas humanitárias o levam a documentar as atividaes de grandes organizações, como o Médicos Sem Fronteiras, Greepeace, ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres) e Proteção Animal Mundial.
“Mesmo não sendo uma pauta, a denúncia está implícita no tema,” diz Diego. “Meu trabalho é humanizar essa documentação, se não tudo fica muito estigmatizado.” Querendo ou não, os assuntos políticos estão dominando a vida de cada indígena brasileiro devido ao crescimento no número de mortes, incêndios em suas demarcações e pelo fato de que o Senado está sempre em discussão sobre eles merecerem ou não espaço para morarem – sendo eles, os donos destas terras.
De 2014 até 2024, houve um aumento de 50% no número de assassinatos à indígenas, tendo seu ápice em 2023, mesmo ano em que houve a abertura do Ministério dos Povos Originários, coordenado por Sônia Guajajara. Diego reforça a importância do Ministério, mas afirma que nós, enquanto brasileiros, devemos ser conscientes sobre tudo o que acontece ao nosso redor, principalmente quando falamos sobre terras pegando fogo e pessoas sendo mortas.
“Não é nada fácil ser fotógrafo de histórias humanitárias e ambientais. Ao mesmo tempo, é impossível não ser.”
“As pessoas que não possuem contato com os povos indígenas possuem um olhar exótico sobre eles,” explica Diego, ao dizer que sua convivência quebrou diversos paradigmas sobre percepção e entendimento do que é ser brasileiro e de como nós observamos – seja pelos jornais ou outras mídias – os comportamentos de povos indígenas. ”Querem saber como são, o que fazem e o que são as práticas, mas no fim, eles são igual a nós. Cada um está em uma cultura diferente, mas não deixam de ser brasileiros. Todo mundo tem o seu próprio espaço de convivência.”
Diego viajou o país ao lado das figuras indígenas mais importantes, marchou em protestos exigindo direitos e terras igualitárias, participou de congressos e debates e viveu grande parte da sua vida adulta em aldeias remotas do baixo Xingu, sempre fotografando e criando uma documentação histórica, porém ele reforça que “Não existe nada mais bonito e poderoso do que ver eles segurando uma câmera e fotografando suas próprias vidas. É o que eu sempre sonhei em ver, é o que eu sempre quis. Claro, que ainda tem muito trabalho e qualidade a ser lapidada, mas agora, eles podem contar as suas versões da história.”
Em retrospectiva, o ativista e fotógrafo ressaltou que no começo de sua documentação o que mais lhe chama atenção era o novo, o diferente e o estarrecedor. Suas primeiras empolgações fotógrafas eram em práticas ritualistas e encontros, porém aos poucos foi mudando sua visão para os momentos mais singelos e únicos do cotidiano. “Fotografar os povos originários não é a concretização de um sonho, ela é uma questão de vida, uma ideia de poder ajudar e fazer com que a câmera ajude também. Eu vejo acontecer algo que eu quero que aconteça”.