VAQUEIRAMA
Uma história de Ricardo Prado
PUBLICADO
09 de Setembro, 2024
TEXTO
Renato Moraes
O fotógrafo Ricardo Prado já viajou por grande parte do solo brasileiro e ao longo dos anos expandiu sua fotografia em vários campos, explorando publicidade, fotojornalismo, ensaios e documentação. A mistura de todas essas técnicas e variações difundiram seu trabalho em registros únicos da cultura popular brasileira e hoje é dedicado ao resgate de tradições remotas.
Sob o sol quente e o chão árido do sertão, à distância é possível ouvir um trote rápido e pulsante. A terra treme e os galhos de mato seco se quebram violentamente. Com força bruta e velocidade perene, os bois saem correndo em meio caatinga. Uma hora depois os cavalos montados por vaqueiros vestidos em couro saem atrás dos bois e começam os pegas. Alguns de 30, outros 70 anos. Alguns cansados, outros cheios de energia. Uns pela diversão, outros pela glória, mas todos juntos pela identidade sertaneja.
“Vaqueirama é como os vaqueiros de algumas regiões se autodenominam dentro do coletivo”, explica Ricardo. “Por exemplo, se chega qualquer vaqueiro no local, eles falam: ‘Salve, Vaqueirama’. Eu acho esse nome lindo, me remete a algo tecnológico,” diz o documentarista que ao longo dos anos construiu um extenso corpo de trabalho inteiramente dedicado a explorar diferentes circunstâncias e celebrações nacionais. “O que eu busco construir neste trabalho é que cada fotografia seja um poster de super-heróis, com o enquadramento, luz e sombra corretos.”
“A grande meta do meu trabalho, enquanto documentarista, é valorizar identidades que são muito preciosas através de pequenos detalhes.”
O trabalho de Ricardo neste projeto cruza caminhos com o documental e o ensaio, aplicando tudo o que aprendeu ao longo dos anos. Os elementos dos vaqueiros estão todos presentes em suas paramentas, comportamentos e estilo único que só é encontrado no nordeste de nosso país. Seus retratos destacam esses homens, por muitas vezes cansados, que correm atrás dos bois para ganharem suas recompensas – alguns bois estão invictos há anos, até mesmo décadas, como é o caso do boi Salgadinho, no Piauí, e alguns são sempre os primeiros a serem pegos.
Por outro lado, a tradição é repassada de geração para geração, porém os vaqueiros que mais se destacam são aqueles que já passaram dos 40 anos e estão a décadas nos Pegas. “São personagens que estão na base da construção do povo brasileiro. Quando eles chegam na caatinga, surge esse guerreiro que tem que utilizar roupas de couro para se proteger do sol e da falta de mata do sertão,” relata Ricardo que registra os vaqueiros há quase uma década.
“Eu amo trabalhar com pessoas e com cultura. Meu objetivo é estar no lugar com novas pessoas e diferentes histórias, compartilhando de novas culturas. A câmera é só uma passagem para esse delírio coletivo que é ser fotógrafo documental.”